Bom, o tema de hoje é "pela sua janela". Pode ser que a imaginação tenha sentado para discutir comigo enquanto eu escrevia o texto.
Espero que gostem! :D


Guardiões

Há um emaranhado de fios bem perto de minha janela.
Aqueles pequenos tubinhos negros seguem para longe, passeando pelo resto da rua, parecendo flutuar por cima de minha casa.
É por eles que, inclusive, aqueles pequeninos animais se deslocam de um lugar a outro.
Você já deve ter visto um deles. Olhos redondos, aparência atenta e um chiado inconfundível. Normalmente não são vistos correndo sem uma companhia de sua mesma espécie, e estão sempre com pressa.
Mas... O que fazem os micos quando saem de nossa vista?
Certa vez eu os segui. Não imaginava que refazer os passos de animais tão pequeninos me mostraria uma faceta tão assustadora do mundo.
Como já devem imaginar, acabei em uma pequena floresta. Árvores altas me rodeavam e eu ainda podia ouvir, ao longe, o som dos cães de meu condomínio. Eles sempre se agitavam quando os mini-macacos passavam por ali.
Foi difícil manter o mesmo ritmo que eles. Em parte por toda a agilidade que aqueles primatas possuem e, em outra, eu tinha a impressão de que eles faziam de tudo para me atrasar. Pareciam querer que eu os perdesse de vista. É claro que, apesar de ter me cansado logo nos primeiros minutos, não desisti de seguí-los. 
O que pode ter sido um erro.
Chegamos a uma espécie de clareira. Deveria caber um shopping center ali, e eu não me lembrava de tê-lo visto durante todos os meus anos morando naquela área de Niterói. Quando notei, os micos já haviam descido dos galhos, e agora corriam para o centro do lugar.
Demorei mais que alguns segundos para compreender o que realmente estava acontecendo naquele lugar.
Surgindo do nada, representantes de algo que muito lembrava de homens adultos pôs-se no caminho dos primatas. Eles possuíam uma colocarão escura de pele, e eram cobertos por folhas amarradas umas às outras por finos cipós. A maioria carregava arco-e-flecha preso às costas, outros pequenos sabres desgastados. Mas, o que realmente chamou minha atenção, foram aqueles olhos em fenda, completamente avermelhados.
Tentei gritar. Certamente deveria ter fugido dali. Antes que eu me tocasse disso, vi que os micos também não eram mais os mesmos. Haviam crescido, ganhado músculos e um corpo ainda mais alto do que o meu. Pareciam gorilas-humanos, e não eram gordos como os de desenhos animados. Suas caudas inquietas estavam de dando nervoso.
Se bem que, naquele momento, eu estava apavorado demais para perceber qualquer que fosse o meu incômodo.
Arrastei-me para trás de um arbusto próximo quando o susto já não era meu maior problema. 
As criaturas conversavam agora. Não entendi perfeitamente do que se tratava - e, sim, elas o faziam em português -, mas pude notar uma voz rouca, esta vindo de um dos homens-folha, soltar algo como "eles destruíram nossa casa".
"nós já explicamos isto!", rebateu um dos micos. Este que, estando à frente dos outros, era o único possuindo a pelagem dourada. Não captei isto no mesmo instante, mas tratava-se do líder deles. Utilizava-se de um tom forte, predominante. Possuía certamente a voz de um rei. "Não podem matar os humanos desta forma."
O que ele disse? Matar os humanos?
"Derrubaram nossas árvores, Sár.", insistiu a criatura das folhas. "Se não os impedirmos agora, estas pestes levarão o mundo à um período negro. São egoístas, você sabe disto. Nós não podemos..."
"Não podem estar falando sério!", cortou Sár, o mico-rei. "Foram abençoados com uma nova dimensão. Toda a sua espécie agora habita o vale de Éden, e sabe que os humanos jamais conseguirão alcançá-lo. Por favor, Llyr, não nos force a ter de pará-los."
"Éden não é a nossa casa.", argumentou Llyr, o homem coberto por folhas. "Pode ser pura e livre de humanos, mas não é de onde viemos. Queremos nosso lugar de volta, Sár, e nós o teremos mais cedo ou mais tarde."
"Meu dever é proteger os brasileiros, Llyr. Infelizmente, terei de deixar nossa amizade de lado caso pense em continuar com este plano."
"Nossa amizade já não se mostra tão intocável, Sár-Allein.", afirmou Llyr de forma um tanto seca. "Tomarei de volta o Brasil. E, depois que tomar o seu lugar, visitarei a Águia americana, a Raposa canadense, o Camaleão mexicano... Não terá um único país que não saberá o nosso nome."
"Llyr..."
"Espalhem-se", gritou Llyr. Ele e seus seguidores, então, se metamorfosearam. Centenas de humanos transformando-se em compactas figuras aladas e voando para longe do cenário antes mesmo que os micos pudessem fazer alguma coisa a respeito. 
Sár não pareceu gostar muito disto. Ele estalou os dedos e os outros micos voltaram ao seu físico normal, dispersando-se rapidamente e escalando as árvores na tentativa inútil de tentar agarrar seus inimigos. Já irritado, o mico-rei cerrou os punhos. Ele correu para longe, deixando-me sozinho na clareira com pensamentos confusos sobre o que havia sido aquilo. Mas, antes de partir, ele deixara uma ordem clara aos seus amigos:

"Capturem os pombos!"

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